Divulgação de vídeo da reunião entre Bolsonaro e ministros confirma depoimento de Moro e revela conteúdo que pode configurar outros crimes
O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubou o sigilo da reunião ministerial do dia 22 de abril em que, segundo o ex-ministro Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro ameaçou interferir na Polícia Federal. Os trechos preservados por Celso de Mello foram apenas os que se referiam às relações internacionais do Brasil.
A gravação é cheia de palavrões, discussão entre ministros, ameaças aos ministros do STF e confirma o conteúdo revelado no depoimento de Sérgio Moro na Polícia Federal. O detalhe é que as falas do presidente Bolsonaro e dos seus ministros abrem a possibilidade para o cometimento de outros crimes de responsabilidade.
Bolsonaro diz abertamente que deseja armar toda a população, porque não quer uma ditadura no País. “Olha como é fácil impor uma ditadura no Brasil. Por isso eu quero que o povo se arme, a garantia de que não vai aparecer um filho da puta e impor uma ditadura aqui. A bosta de um decreto, algema e bota todo mundo dentro de casa”, disse o presidente, se referindo aos decretos de isolamento social. Ele ainda critica os serviços de informação do Governo Federal e diz contar com um “sistema próprio de informação particular”. Bolsonaro enfatiza que “este funciona”.
Apesar de ter demonstrado uma certa “paz” em reunião com os governadores nesta quinta-feira, dia 21 de maio, na gravação divulgada pelo STF, Bolsonaro se referiu aos governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, respectivamente, como “bosta” e “estrume” na reunião ministerial.
Os ministros de Bolsonaro também fazem ataques a instituições durante a reunião. O da Educação, Abraham Weintraub, classifica os ministros do STF de vagabundos. “Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia”. Damares Alves, dos Direitos Humanos, defende a prisão de governadores e prefeitos que defendem a manutenção do decreto de isolamento social no combate à Covid-19. Já o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales, ainda diz que é hora de aproveitar que a imprensa está voltada para a cobertura da pandemia, para aprovar reformas “infralegais” de todos os tipos. Para o ministro, essa seria a hora de “passar a boiada” e simplificar normas “de baciada”, independente do que está na Constituição. As ilegalidades cometidas na área do meio ambiente vêm sendo derrubadas pelo STF.
Mas o que impressiona no teor da reunião é a ausência de qualquer discussão sobre a tragédia de saúde pública que o Brasil e o mundo enfrentam: as mortes causadas pela Covid-19, o socorro econômico aos trabalhadores que estão impedidos de ganhar o seu sustento e às pequenas e microempresas impedidas de funcionar por causa do fechamento do comércio.
É esperar agora os próximos passos da investigação conduzida pelo ministro do STF, Celso de Mello, sobre a tentativa de interferência de Bolsonaro na mudança do diretor-geral da Polícia Federal. A repercussão da divulgação do vídeo da reunião ministerial promete esquentar ainda mais o clima político em Brasília.