Ex-secretário do Ministério da Saúde diz na CPI que Governo Federal não comprou vacinas em 2020 por falta de confiança na eficácia

  • 09/06/2021

Apesar de apostar contra o isolamento social e no tratamento precoce com medicamentos sem comprovação de eficácia científica, o Governo Bolsonaro não comprou vacinas da Pfizer oferecidas em 2020 por incertezas quanto à segurança do imunizante para a saúde das pessoas na pandemia. Pelo menos foi o que apontou o ex-secretário executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, durante o seu depoimento na CPI da Covid, nesta quarta-feira, dia 9 de junho, no Senado Federal.

“Nos pareceu que ela queria se isentar da responsabilidade sobre o efeito colateral grave. Nem ela confiava no que ela estava oferecendo para a gente”, afirmou aos senadores. Élcio afirmou ainda que não havia certeza de vacinas “seguras e eficazes” no ano passado. Sobre a Coronavac, o depoente negou que o governo federal rompeu negociações com o Instituto Butantan, mas acabou confirmando que houve descrédito do ministério no desenvolvimento do imunizante.

Relator da comissão, Renan Calheiros (MDB) acusou o ex-secretário de mentir sobre as negociações com o Butantan. O senador Otto Alencar (PSD) interviu com a lembrança de que a vacinação no País começou apenas após determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), que exigiu o início do Plano Nacional Imunização. “O governo sempre negou a vacinação. Isto é muito grave”, pontuou.

Sobre os mais de 50 e-mails enviados pela Pfizer com proposta de compra da vacina sem resposta, o ex-secretário disse que ocorreu falha no sistema de e-mail e criticou a comunicação da farmacêutica.

Caso o Governo Federal tivesse fechado os negócios em 2020, o Brasil já teria 60 milhões de doses da Coronavac e 4,5 milhões de doses da Pfizer entre dezembro do ano passado e março deste ano. Com o atraso na compra, o país conseguiu apenas 36,3 milhões de doses da Coronavac e os primeiros lotes da Pfizer começaram a chegar apenas em abril.

Élcio negou a existência de um gabinete paralelo no governo. No entanto, admitiu reuniões com o deputado federal e um dos principais negacionistas ligados ao governo, Osmar Terra (MDB), e também com a médica e defensora da cloroquina, Nise Yamaguchi, enquanto estava na Saúde. Além disso, alegou ter uma relação “amistosa” com o empresário Carlos Wizard, apontado como um dos conselheiros paralelos de Jair Bolsonaro.